quarta-feira, 27 de agosto de 2008

...

e se não fosse a saudade
o sangue já não teria sentido em correr pelas veias
e aquele sorriso bobo que insiste em aparecer
seria dispensável
se não fosse as lembranças
o olhar da mona lisa não a perseguiria por todos os lados
e a música ouvida no carro estacionado num posto qualquer
já teria sido trocada
sentir tudo de novo é o que ela mais quer
e todos os dias fecha os olhos buscando reviver aquele momento
'volta' - fala baixinho pra si mesma
mas, todos os dias ela encontra partes dele pela cidade
e em cada objeto, um pacotinho de felicidade e esperança
...
ela anda se explicando pelos cantos
então, então, então...
vê nos outros algo que de suas mãos escorrega
é como se Deus tivesse sentenciado:
um fim de semana, nada mais.
sábado, domingo. acabou.
mas, ainda sim, o perfume a invade todas as noites
e o tesão lhe morde a boca
'volta' - repete
...

sexta-feira, 22 de agosto de 2008


minhas pernas começaram a doer de tanto te esperar. sentei. e continuo esperando. já são quase 6 da tarde e você não apareceu...

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

embora, em boa hora.

vou-me embora. partirei levando comigo uma pequena trouxa feita de pano. coisas simples, nada de valor. luxo é lixo para mim, agora. mudarei-me para uma casa grande, espaçosa, que consiga aconchegar todos os sentimentos que insistem em me perseguir. sairei do meu apartamento que me esmaga e me faz dar de cara todas as manhãs com a solidão, a dor, a angústia. e detrás dessa nuvem negra que meus olhos vêem assim que abrem, consigo ver o amor, a paixão, o tesão, o desejo, a felicidade tentando iluminar meu quarto. todos os dias, quando pego o elevador, deixo dentre dele metade dos meus pensamentos. não quero mais isso. por isso irei para uma casa enorme. onde caiba exatamente tudo que penso, sinto e desejo. onde eu não precise decidir ou escolher quem entra e quem fica da porta pra fora. quero deixar cada um desses sentimentos dentro de um cômodo e toda vez que quiser senti-los pulsar no peito, entrarei e me deixarei invadir. vou para essa casa pois ela tem rede. eu amo rede. ah, aquele ventinho e a sensação de leveza que dá é inigualável. e lá, só deixarei os sonhos ficarem. eles são leves, suaves e vou poder quase tocá-los. pois na rede me sinto livre. e só quem é livre toca o abstrato. vou embora porque cansei de me esbarrar nos móveis cheios de lembranças e saudades. na minha casa, nessa que vou morar, terei apenas almofadas, fotos e muita música. não pense que estou fugindo. não, não sou tão medrosa assim. apenas estou indo embora. mas saiba, levo as dores e rancores comigo. com a mudança, decidi amar. ou me apaixonar. enfim, decidi dar uma chance pra essa chama que mais se parece uma vela dentro do coração. um dia ela me queimou por inteiro. hoje, está mais inofensiva que meus caninos. mas, vou me entregar. nem que seja pra quebrar a cara (de novo). faz tempo que me tornei azeda demais para coisas sensíveis do peito. agora, resolvi mudar de casa e de atitude. serei doce. não como o mel. mas nem tão amarga quanto o fel. serei suave. e deixarei esse sentimento na sacada lateral. assim, toda vez que quiser ver o sol iluminando ou as estrelas brilhando sentirei a leveza de estar apaixonada. e andarei com um sorriso bobo estampado no rosto. e ficarei assim até entrar na lavanderia e sentir o peso da tristeza. ligo a máquina de lavar. tum tum tum tum tum lá se foi embora. olhar no além de novo. passos lentos. respiração ofegante. paixão, amor, paixão. ok, vou me mudar. aliás, já estou partindo. pijama, travesseiro, edredon. tudo pronto. fui. adeus.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

em construção.

cansei. e dessa vez foi um cansar sorrateiro, não apenas da boca pra fora. joguei para o alto, fiz bagunça na minha cabeça. não quero mais viver esperando tudo acabar um dia. nem sentir uma felicidade inventada, com data de validade. quero algo que dure exatamente pra sempre. o sempre pra mim. meu sempre que só eu entendo. confesso que nunca tinha me sentido assim. não nessa intensidade. na realidade isso não é de hoje. há tempos que choro dores alheias pra não sentir as minhas próprias feridas. vivo romances de filmes. cansei de olhar nos olhos de quem me rodeia e procurar a mim dentro deles. sou eu que não me vejo mais. eu não quis admitir. mas, agora, cansei. vou esquecer a solidão assim como o amor fez comigo. quem sabe assim, ele não se sente esnobado e volta. vou abrir meus defeitos e sentir dor no peito ao alguém descobrir minhas fraquezas. eu não preciso mais mentir que sou forte. vou sair correndo quando der vontade e escutar muita bossa nova. e mpb. minha face roqueira não me serve nesse instante. quero ver o mundo com imagens, cores e formas. passei um tempo longe das palavras e me senti tão abandonada que não vi sentido mais em respirar. esquecer-se de tudo é uma delícia. mas não levam seus problemas embora. e, quando você lembrar, eles estaram lá. maiores, às vezes. então, não quero apagar nada da minha memória. quero apenas selecionar o que levo comigo. vou me trancar no quarto, pintar as unhas e encarar o sol de frente. sem ter medo das conseqüências. e se quiser chorar de saudade, chorarei. e será um choro só meu. vou exorcizar meus demônios e espantar as sombras. não terei vergonha de mostrar que meu rosto ficou mais sério e que perdi o brilho no olhar de criança. vou sentir a falta de verdade. e não fingir que tudo está perfeitamente bem. fiz certas escolhas que me afastaram, mas que não me impendem de sentir o que eu quiser. cansei. cansei de repente. e não vou fazer tudo diferente. vou deixar por fazer. e aprender com cada dia uma dança nova. e sentir o tesão da surpresa. e gozar do desconhecido. quero que alguém me descubra em partes. misteriosamente cada fragmento. cansei de ser sempre por inteira. e se for pra ficar sozinha, ficarei sozinha acompanhada. levarei-me aos luxos da minha presença e companhia. e isso me bastará. cansei. e cansei pra sempre. até o sempre me cansar também.

enfim.

voltei, enfim. e como quem volta, trago saudade. e como quem chega, trago sorrisos, abraços. sentimentos puros que revelam que nem tudo dentro de mim se perdeu com os ventos que baguçaram minha casa. trouxe presentes para quem me fez falta. na mala, pedacinhos de uma felicidade inventada e efêmera. calcei meus tênis e pude sentir farelos de areia dentro deles. caminhei alguns metros e eles começaram a machucar meus pés, como uma lembrança que martela minha cabeça e não deixa o conforto sair do peito. porém, os problemas que só existem para mim e pra mais ninguém não me deixam seguir. sento-me num banco perto de árvores bem verdes. sinto, mais uma vez, os ventos balaçarem meu cabelo. corro. deixei as janelas abertas e não quero que ele desarrume meu canto de novo. da outra vez foi terrível. remexeu em feridas e fotos que eu queria esquecer. pra arrumar foi um inferno. senti-me queimando o ódio por dentro. foi um horror. não quero isso tudo de novo. acho que não aguentaria. a ventania vai me levando para casa. a areia no meu pé me impede de ir mais rápido. quando chego em casa percebo que tudo está perfeitamente normal. tiro os tênis e viro-os de cabeça para baixo. nenhum grão sequer sai. coloco-os de novo e lá estão aqueles malditos mais uma vez a me encomodar. reclamo sozinha como quem procura o que se chatear. vou até o quarto para, quem sabe, desarrumar minha mala. odeio essa coisa de desfazer. gosto de fazer. desfazer, não. quando desfaço alguma coisa sempre esqueço o porquê me levou a fazer. e esquecer o processo não me leva a um fim. e eu odeio coisas mal-acabadas. quando entrei no cômodo escuro, percebi que a sombra da minha mala sob a cama não estava mais lá. corri para acender a luz. pasmei. não estava mais lá. eu deveria ter ficado feliz, já que me poupou um serviço muito do chato. mas, fiquei furiosa. terá sido o vento? ao invés de bagunçar, arrumou minhas coisas? lazarento do vento. era eu quem tinha de fazer isso. EU, ouviu?! era eu que tinha de sentar na cama da frente e lamentar minha mala ainda estar ali, intacta. eu deveria acender um cigarro e pensar quanto tempo poderia viver com a mala assim, pronta. vento desgraçado. arrumou minhas coisas e nem me deixou sentir o desgosto de ver tudo amassado. desfez minha mala e não me deixou afundar na nostalgia da volta. porque sou assim: nostálgica. gosto de imaginar a reação em cadeia ao pensar em algo que poderia ter feito diferente. agora que o vento resolveu me perturbar, não poderei sentir o cheiro da felicidade que eu trouxe em algumas roupas. nunca mais deixo as janelas abertas. e vou ter que arrumar outra viagem para ir. pronto, hora de arrumar a mala. estou de partida, enfim.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

ontem a noite.





às vezes é estranho olhar ao redor e ver que vida não parou na minha ausência. é como se o mundo todo andasse num ritmo que só eu não escuto. durante os meus dias, as horas passam despercebidas entre um gole e outro de café, um sonho novo, um desejo ardente. minha vida correu pelos anos e eu vi um futuro que não cabe nas minhas mãos. ou eu não quero que caiba. olho para trás e vejo um mundo de saudade que a cada instante mata um pedaço de mim. dilacera o peito. estraçalha sentimentos. e eu tento reviver esse passado no presente, esqecendo-me de que as pessoas que hoje me cercam não são as mesmas de algum tempo atrás. temo o futuro pelo esquecimento e pela solidão que ele carrega junto de si, num tom azul celeste. para mim, não há planos: cada dia nasce de acordo com a luz do sol no rosto ao amanhecer. quero inventar sentimentos para me sentir mais confortável com a distância e quero imaginar coisas que me dêem coragem pra enfrentar o novo. não preciso de verdades concretas nem verdadeiras. apenas o que mora no meu coração me guia. vivo da nostalgia do que já fui e levo dentro de mim o desejo do que posso ser. sou saudade, mas também esperança. um misto do presente com a incerteza do futuro.


sexta-feira, 2h05 da madrugada.