terça-feira, 17 de junho de 2008

trancado


quando ela chegou, ele já estava ali. há anos que freqüentava esse lugar. para ele, tudo era tão conhecido como sua antiga coleção de cd's. mas ela era nova. nunca tinha visto aquele rosto passando por aqueles corredores. ao vê-lo, sorriu. e o desejou. como era bonito e como transbordava segurança. ele apenas devolveu o sorriso simpático. ela era linda, mas pensou ser apenas uma garota de passagem. estava com pressa e nem reparou que seus olhos eram verdes e contrastavam com a pele branca e o cabelo preto. na verdade, depois de tantos anos ele já tinha perdido as esperanças de encontrar alguém diferente naquele lugar. mas, mesmo assim, ia todas as noites. e tudo era tão mecânico que nem as poltronas vermelhas que haviam sido trocadas ele viu. todos comentavam a nova mulher que estava ali. ele não. sentou no seu banquinho de sempre e bebeu seu drink de sempre. ela, do outro lado do balcão, fumava seu cigarro e bebia whisky cowboy. conversou com vários outros homens que vieram sentar ao seu lado. mas, não tirou os olhos dele um segundo. até que cansou de olhar. nenhum homem dali valera tanto. pegou sua bolsa, andou até o banheiro, retocou o batom vermelho dos lábios e saiu. ele também. se encontraram na porta de saída. ela sorriu novamente, mas, dessa vez, um sorriso sedutor. ele cheirava desejo. ele então olhou-a nos olhos. e pôde sentir seu perfume cítrico. fitaram-se por mais alguns instantes. ele sentiu vontade de tê-la. e possuir seu corpo e beijar aquela boca vermelha. continuo em silêncio, olhando e desejando-a por dentro. sentiu seu sangue ferver em suas veias como há tempos não sentia. e seu coração bateu acelerado. ela molhou os lábios e com um olhar marcante se foi. e ele, sem reação, deixou ela ir. na noite seguinte lá estava ele no mesmo lugar. ficou observando a porta com o canto dos olhos, esperando aquela mulher chegar. impaciente, não desgrudava do relógio. sentiu cada segunda estrangular seu peito. ela não apareceu. nunca mais ele a viu. mas, noite após noite ele esperava por ela. ali, no mesmo banco, com a mesma bebida. passou todas noites de sua vida esperando aquela mulher. precisava dela. só ela tinha as chaves do cadeado que o libertaria daquele lugar. só ela poderia fazê-lo se sentir vivo novamente. e ele a deixou ir.



foto por Tainá C. S.

3 comentários:

Camilla Tebet disse...

POxa, faz ela voltar> Que essa espera eterna dele seja quebrada então por outra aparição. POrque se ela não voltar, de nada pra ele terá valido se apaixonar e ficará para sempre trancado. Que viajada!! E em quantos mil sentidos alguém pode estar trancado não é?
Um beijo menina.

Abner E.D. disse...

A vida é feita de escolhas; o destino poderia ser definido como sucessivas portas que levarão a caminhos diferentes dependendo da escolha que fizermos...

Por isso, siga sempre seus desejos;
Viva, sinta, atenda seu coração,
ame e seja amado, sonhe quando estiver acordado, brinque,
aprenda.
Não perca as pessoas por orgulho, algumas vezes precisamos deixar leves princípios de lado.
Busque a felicidade, mas saiba que ela é feita de pequenos momentos.
Surpreenda, invente, conquiste aqueles que ama diariamente.
Como disse aquela mãe: problemas viram, mas passarão.
Se o amor não for eterno, o passado é o que determina o futuro.
Viva ...


Desculpe a "invasão", mas achei que cairia bem =P

Nícolas R. Stainsack disse...

já me senti assim várias vezes, mas ainda bem que a corrente não era tão forte e eu consegui quebrá-las.