quarta-feira, 30 de julho de 2008

os olhos no futuro. cabeça no passado. corpo no presente.
o tique taque dos relógios me perseguem...
eu apenas escuto seus ponteiros e sigo no ritmo da minha dança.



foto por Carolina Sperb
http://www.flickr.com/photos/carolinasperb

segunda-feira, 14 de julho de 2008

PÉS NO CHÃO


fugi. como quem foge do fogo. sumi das horas e dos dias. perdi tempo, sono, dinheiro. esqueci compromissos, datas, e-mails. deixei celular, preocupações, cansaço. comprei cerveja, sorvete, chocolate. ganhei sorrisos, abraços, carinho. apostei corrida. tropecei nas minhas própria pernas. senti arrepio. passei calor e arregacei as calças. molhei meus pés. salguei a pele. sujei meu tênis de areia. lembrei de alguém. liguei. abri a mão. a mente. o coração. senti tesão e não passei vontade. fiz somente o que eu queria. não tive obrigações. e ainda pedi favores. mas também atendi a pedidos. usei menos roupa. e me senti menos distante. desejei uma pessoa. desejei isso a uma pessoa. senti os lábios formigarem do gelado. vi o sol por muito tempo. e deixei-o queimar meu rosto. meus braços. minhas coxas. não me preocupei com nada. e não tive tempo de pensar em algo que pudesse me preocupar. me senti bem nas roupas curtas. fiz meu corpo suar. prendi o cabelo. tomei banho sem pensar em nada. dormi quando tive vontade. acordei quando o sono acabou. me escondi quando senti vergonha. e, dessa vez, não tive medo de dizer que estava com medo. mas, voltei. deixando marcas de areia pela casa. e o sorriso me tomou a boca. e uma cara de boba se apossou de mim. estou de volta. e ainda não cheguei. não calcei meus sapatos.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

a caixa e o coração

a caixa acabara de chegar. ansiosa, abriu sem ler o remetente ou sequer se preocupar com o carteiro que esperava sua assinatura. querendo chamar a atenção dela, o moço pigarreou forte e alto. desnorteada, colocou seu nome na linha indicada, fechou a porta e se sentou no chão. abriu as pernas feito criança que recebe um novo brinquedo e tenta desvendar aquele universo misterioso. ao rasgar a caixa de papelão impacientemente, viu-o. estarrecida. ele estava lá, vermelho vivo, num formato não muito definido, grande. ficou observando-o sem entender por alguns instantes. retirou-o da caixa procurando encontrar alguma carta ou bilhete que explicasse ou desse algum sentido para ela receber aquilo em sua casa. ao levantá-lo, encontrou um papel dizendo "MANUAL DE INSTRUÇÕES". sentiu-se aliviada por um breve momento. quando abriu o dito manual encontrou apenas uma frase "USE SEM MODERAÇÃO". sem esclarecimento algum, ela ficou se perguntando quem havia lhe mandado aquilo. e por quê. mas o papel já estava rasgado em mil e uma partes e ela jamais saberia. continuara ali, sentada em frente a caixa esperando alguma explicação cabível. que viesse dos céus, dos ventos ou mesmo do mais íntimo de sua memória. mas nada parecia fazer sentido algum. deixou a caixa ali mesmo, no meio da sala e foi trabalhar. não conseguia esconder sua inquietação em saber o que, exatamente, queria dizer aquilo. uma colega de trabalho, ao perceber sua agitação, perguntou o que acontecera. ela lhe explicou. no final, perguntou o que a moça achava. ela respondeu:

- Acho que sei do que se trata.Vi no jornal, um dia desses, que a China inventara uma nova tecnologia e que muitos empresários, pessoas ricas, de posse estavam adorando essa modernidade. Chama-se 'coração'. É um negócio que você coloca no lado esquerdo do peito. Dizem que aumenta a qualidade de vida em quase 70% e que se a pessoa não tiver nenhuma reação com o dispositivo, pode até ser feliz.

'coração'? 'feliz'? perguntara a si mesma como isso seria possível. ao chegar em casa, deparou-se com a caixa no chão, exatamente onde deixara. sentou-se novamente em frente dela e pegou o dito coração nas mãos. ensaiou várias vezes colocá-lo no lado esquerdo do peito, como a moça falara. não teve coragem. sempre fora muito covarde. ainda mais com o desconhecido. certa vez´, alguém dissera que ela amaria loucamente um homem. ela jamais deixara qualquer pessoa do sexo oposto se aproximar. pegou a caixa e levou até o lixo. 'mais uma dessas tecnologias baratas chinesas', desculpou-se. nunca soube o que exatamente ter um coração. e a felicidade lhe parecia algo inatingível. o medo nunca lhe permitiu nada; nada além do fracasso, nada além da desilusão. ela só queria saber quem mandara aquilo de presente. certamente o homem que a faria feliz e que amaria loucamente. nunca soube. e jamais saberá.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

"ao escrever, ultrapasso minhas limitações. quando escrevo, eu transcedo as minhas pobres circunstâncias e me torno deus".


aos meus amigos - maria adelaide amaral
pág. 135