"ao escrever, ultrapasso minhas limitações. quando escrevo, eu transcedo as minhas pobres circunstâncias e me torno deus".
aos meus amigos - maria adelaide amaral
pág. 135
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em preto e branco.
apenas isto. um sorriso torto, sentido. pele fresca, cabelo gostoso. fechar os olhos e apenas sorrir. sem passado ou futuro. agora! troque defeitos por desejos. não há tempo para avaliações. seja apenas natural. e fique à vontade. casa é sua, é minha, é nossa. em preto e branco, simples. mas repleta de momentos... (foto por Tainá.)
chama.
o fogo arde, assim como os corações apaixonados. amor não. amor é seco, duro, machuca, faz doer. paixão arde, incendeia, dá vida. a paixão é chama; chama por amor. e o amor, desavisado, desajustado, descompassado, fingi não ouvir. paixão é fogo. amor é brasa. amor alimenta. paixão consome.
café
vou tomar meu café sentada na varanda. sentirei o dia cair e noite tomar seu lugar. tomarei uma, duas, três xícaras... quantas forem necessárias para me trazer de volta à vida. não quero mais mesa posta. quero o café passado na hora. daqueles que o cheiro invade a sala, o quarto e cozinha do vizinho. vou vestir minha roupa mais confortável e deixar que noite responda meus dilemas. e me farei de entendida. vou tomar o último gole e sentir o gosto do pó roubar meu sono. dormir é morte. morte momentânea, morte controlada. e eu não quero nada que caiba nas minhas mãos. somente minha xícara de café, meus sonhos, o dia e a noite.
nuvem
meu coração se revoltou com o amargo da minha vida. criou vida, ficou leve e foi voar por aí. pegou carona numa nuvem e levou consigo minha luz. voa, voa, eu não me importo. mas traga devolta meu dia.
varal.
estendi roupas secas no varal lá de fora. deixei-as lá para quem sabe chover. vi a vizinha correr para recolher tudo antes que o cinza dominasse o céu. peguei minha caneca cheia de café já frio, sentei no degrau da escada e esperei. os chuviscos começaram. cruzei os dedos para que a chuva aumentasse. o temporal se fez presente. observei os clarões sob minha cabeça e vi escorrer pelas minhas roupas uma água escura. agora sim posso vesti-las. não gosto de roupas secas. seco é sujo. seca e suja sou eu. as roupas não.
loucura
ela já não queria mais saber de nada. aquela hipocrisia a sufocava. e gritava debaixo do chuveiro. exorcizava sua raiva. estava cansada de meias verdades. de sorrisos gentis. ela queria mais. queria não precisar parecer forte. queria chorar quanto sentisse vontade. queria mais intensidade. mas não. o sangue fervente não passava mais por suas veias. ela não podia ser quem ela era. o mundo controlava sua loucura. e a lucidez do mundo a enlouquecia.
adeus
ele se foi. junto dele, foi seu amor. a rosa não tinha mais vida. nem cor. ela o deixou partir. e viu, por entre seus dedos, escapar a felicidade. mas a flor secou. e a saudade não era mais sua companheira. ela estava vazia. e não havia sonhos. nem chão. nem ar. a solidão a dois a sufocava. ela já não conseguia mais amar. ela já não conseguia mais amar aquele homem. ela já não conseguia mais amar aquele homem nem ela mesma. a poesia não fazia mais sentido.
de canto
eu te observo. te cerco por todos os lados. nada escapa a mim. eu acompanho cada passo seu, de canto. e sinto contigo as dores do parto. mas, só por hoje, quero que me veja. e arranque minha roupa. e borre meu batom. apenas hoje, me tire de sua estante e me coloque na mesinha de centro.
perfil
O que eu sinto eu não ajo. O que ajo não penso. O que penso não sinto. Do que sei sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse. Clarice Lispector
da janela
e o que me espera do lado de fora? salta; pula; se joga; a vida acontece enquanto você se esconde. Foto por TAINÁ C. S.
pulsar
e o coração se alimenta das palavras. ele sacia toda a sua vontade. cada letra, um farto banquete para um coração faminto. quando se satisfaz, transborda, respingando sentimentos junto com as palavras que se vão. é quando ele seca, e bater se torna cargo pesado demais para um coração vazio. novas palavras, novo alimento. farto, esvazia. vazio, farta-se. num pulso inconstante constantemente.
Quem sou eu
- Carolina Sperb
- é difícil falar de mim quando realmente estou numa fase de descobertas. há algum tempo atrás, eu poderia escrever um livro. mas, hoje, estou buscando um outro olhar sobre tudo que sou e o rumo que minha vida tomou. a única coisa que eu posso afirmar é que sou uma camaleoa. um turbilhão de sentimentos. romântica; extremamente romântica. o que sinto, escrevo. e quando desabafo, me conheço melhor por dentro. assim, caminho. pra onde vou, ainda não sei. mas, caminho. saio do lugar, mudo os ares. não tenho raízes em parte alguma. tenho laço no coração. e é isso que me importa. pois independente de onde eu esteja, meu coração é o mesmo. e o que sinto, também.
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