sexta-feira, 15 de agosto de 2008

embora, em boa hora.

vou-me embora. partirei levando comigo uma pequena trouxa feita de pano. coisas simples, nada de valor. luxo é lixo para mim, agora. mudarei-me para uma casa grande, espaçosa, que consiga aconchegar todos os sentimentos que insistem em me perseguir. sairei do meu apartamento que me esmaga e me faz dar de cara todas as manhãs com a solidão, a dor, a angústia. e detrás dessa nuvem negra que meus olhos vêem assim que abrem, consigo ver o amor, a paixão, o tesão, o desejo, a felicidade tentando iluminar meu quarto. todos os dias, quando pego o elevador, deixo dentre dele metade dos meus pensamentos. não quero mais isso. por isso irei para uma casa enorme. onde caiba exatamente tudo que penso, sinto e desejo. onde eu não precise decidir ou escolher quem entra e quem fica da porta pra fora. quero deixar cada um desses sentimentos dentro de um cômodo e toda vez que quiser senti-los pulsar no peito, entrarei e me deixarei invadir. vou para essa casa pois ela tem rede. eu amo rede. ah, aquele ventinho e a sensação de leveza que dá é inigualável. e lá, só deixarei os sonhos ficarem. eles são leves, suaves e vou poder quase tocá-los. pois na rede me sinto livre. e só quem é livre toca o abstrato. vou embora porque cansei de me esbarrar nos móveis cheios de lembranças e saudades. na minha casa, nessa que vou morar, terei apenas almofadas, fotos e muita música. não pense que estou fugindo. não, não sou tão medrosa assim. apenas estou indo embora. mas saiba, levo as dores e rancores comigo. com a mudança, decidi amar. ou me apaixonar. enfim, decidi dar uma chance pra essa chama que mais se parece uma vela dentro do coração. um dia ela me queimou por inteiro. hoje, está mais inofensiva que meus caninos. mas, vou me entregar. nem que seja pra quebrar a cara (de novo). faz tempo que me tornei azeda demais para coisas sensíveis do peito. agora, resolvi mudar de casa e de atitude. serei doce. não como o mel. mas nem tão amarga quanto o fel. serei suave. e deixarei esse sentimento na sacada lateral. assim, toda vez que quiser ver o sol iluminando ou as estrelas brilhando sentirei a leveza de estar apaixonada. e andarei com um sorriso bobo estampado no rosto. e ficarei assim até entrar na lavanderia e sentir o peso da tristeza. ligo a máquina de lavar. tum tum tum tum tum lá se foi embora. olhar no além de novo. passos lentos. respiração ofegante. paixão, amor, paixão. ok, vou me mudar. aliás, já estou partindo. pijama, travesseiro, edredon. tudo pronto. fui. adeus.

3 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

mudar é revolução...

Abraço, Carolina.

Assim que sou disse...

Tem momentos em que é preciso não apenas reconstruir, mas construir uma nova história. Seria o Nirvana imaginarmos com duas casas, a da dor e a do prazer. E poder, de acordo com a disponibilidade do espírito, passear entre uma e outra, dividindo sentimento, guardando lembranças, apagando histórias. Mas pensar nesses caminhos é sempre um caminho, por mais delirante e difícil que ele seja.

Gostei muito do " relatos de um coração férvido".

bjs. Veronica

Anônimo disse...

Parabéns por esse texto em especial. Superb