sábado, 31 de maio de 2008

apenas mais uma de amor..

"eu te amo, mas..."
ela nem deixou que ele terminasse a frase. juntou suas coisas, pegou sua escova de dentes que ficava junto da dele, desocupou as gavetas do seu armário, pegou as fotos e os porta-retratos. em cada canto da casa, um pedacinho dos dois. e agora, seria um lugar único, não mais uma mistura dos dois. ele, sentado na cama, vendo a casa esvaziando de coisas e de sentido, chorava. ela, fingindo estar conformada, fingindo ser forte, apenas esboçava uma cara de tristeza, sem se permitir derramar qualquer lágrima. ele a levou até a porta e na rua pôde ver o táxi que a esperava. ela saiu sem se virar e ele ameaçou um adeus. mas, ele sabia que era o adeus mais doloroso em sua vida, e resolveu se calar. e nesse instante, vendo o carro partir, sentiu a dor em seu peito queimar todo seu corpo. ficou ali, sentado na porta, tentando entender porque havia feito aquilo. ela, já dentro do táxi, desabou no choro. um choro soluçado, esmagado. e quanto o motorista perguntou para onde ia, ela apenas disse: "me leve pra qualquer lugar que eu possa arrancar isso do meu peito". ela acabou indo para casa. quer dizer, sua velha casa, com suas coisas únicas, com objetos que não traziam lembrança alguma dos dois. jogou tudo no chão, sentou num canto do quarto, abraçou os joelhos e chorou. tudo aquilo não fazia o menor sentido... e ela sentia como se o amor fosse a pior amargura em sua vida. a lua deu lugar ao sol. e ela continuava ali, na mesma posição, com os olhos inchados, secando por dentro. ele também continuava na porta de casa, sentado, como se esperasse que ela fosse voltar a qualquer instante. mas ela não voltou. e ele não a procurou. e os dias foram passando. e aquele vazio só aumentava. ele se estrangulava suas horas com o trabalho. ela sufocava suas noites de insônia escrevendo. ela voltou a fumar. ele já não usava mais seu chapéu preferido. ele tinha tanto a dizer. ela tinha tanto para dar. ele se calou. ela se fechou. surgiu a solidão.

Um comentário:

Luisa disse...

pequenina pequena, grande minha menina.
que te minha, tem só o ser amiga. E o resto todo é do mundo.

ganhaste duas pequenas lágrimas por esse.