quarta-feira, 4 de junho de 2008

apenas mais uma de amor II




aquele nó na garganta já não existia mais. o aperto no peito, deu lugar ao vazio acompanhado de esperança. ela já não chorava há dois dias e sentia que isso poderia ser um sinal de novo começo. ou novo fim. ela não sabia ao certo, mas se sentia menos presa ao passado, mais solta no presente, muito leve no futuro. ao anoitecer, não temia mais a insônia ingrata que a atormentava. pelo contrário, fazia dela sua companheira e lia alguns livros já encostados pela falta de tempo ou de coragem. hoje, pela manhã, acordou quente e já sem sono. o sol voltara a ser fiel. levantou, tomou seu banho demorado, passeando o sabonete pela sua silhueta magra e delicada. sua pele extremamente branca, contrastava com as unhas vermelhas e seu cabelo preto, com o olhos verdes. seu creme preferido voltou a perfumar seu corpo. escolheu, como quem escolhe um presente ao novo namorado, sua roupa. cada detalhe foi pensado. sua lingerie preta desenha suas curvas. colocou seu jeans preferido, com um casaco de toca e bolso na frente. ela adorava casacos assim. calçou seu all star sujo como se fosse um sapatinho de cristal. fazia tempo que não usava ele. a última vez, pela que se lembra, foi no dia que ele foi embora e já estava sujo. desse dia até hoje se passaram semanas. mas ela o encostou num canto, como se quisesse guardar a lembrança do último beijo eternizada no tênis. voltou ao banheiro para se olhar no imenso espelho. reparou que seu cabelo preto, liso e comprido escondia o sorriso tão bonito que tinha. ela não pensou duas vezes: pegou a tesoura e, com a mão firme de quem sabia o que estava fazendo, cortou as madeixas. ela então pôde ver seu rosto como nunca tinha visto. e como ele era bonito. e como andava triste. mas, hoje não. não mais. o sol voltara a ser seu amigo e a noite, sua companheira. hoje, ela não temia vestir seu tênis. hoje não. passou o delineador em seu olhar marcante. as bochechas rosadas intensificavam seu rosto fino. ela estava pronta. e se sentia diferente. não era pelo cabelo, não era pelo tênis, não era pelo sol ou pela noite. era por ela. juntou suas coisas, tudo que pudesse precisar naquele dia e saiu. não queria saber de carro, ônibus, táxi. não tinha rumo ou objetivo. o dia era dela e nada estava programado. mas ela sabia que ia ser maravilhoso assim, desse jeito, sem horários, coisas pra fazer, lugares pré-estabelecidos para ir. foi quando, caminhando na rua com seu discman tocando 'The Beatles 1', que o viu. e como ele estava lindo. ele também a viu. ela ficou estática. ele, correu para abraçá-la. no toque do corpo, ela teve certeza: era ele mesmo. quando se largaram, ele levou a mão em seu rosto, e como quem toca num cristal, acariciou sua face. ela então o beijou. um beijo longo e gostoso. compenetrado. ele sorriu, ela também. saíram passeando pela cidade. cada esquina, um beijo roubado. não era preciso dizer nada, o momento assumiu a descrição. e, naquele dia calado, ela sentiu o amor pulsar. não aquele, do beijo eternizado no tênis. outro. um amor que ela jamais sentira por aquele homem. ela sorriu consigo mesma e, quebrando o silêncio, disse: "o amor é como uma bolha, que nos permite ver através dela. pode ter suas cores e sua textura. mas jamais cega que o possui intacto. quem cuida de sua bolha, nunca terá medo de olhar o outro. pois ela reflete o que há de melhor em cada um, transportando para quem a observa. é uma 'mútua troca motriz'"...
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o sol batera em seu rosto. era hora de levantar.

5 comentários:

Cla disse...

Obg pela visita e pelo elogio!Gostei do texto sobre o amor,aquele que quanto mais a gente fala,mais tem do que falar ne? hehe

Camilla Tebet disse...

Putz, que texto lindo!E final inesperado. Carolina, que bom que o sol voltou a lhe ser fiel. Uma hora volta mesmo. Eu amei esse texto. O melhor que li no seu blog. E já te falei como me identifico com seus textos. Olha só, foi só depois de ter dito isso que vi que vc mora na cidade onde eu nasci e volto sempre: bauru. Muita coincidência. Bobeira minha não!!! Esse texto tá demais. Acredito também que é quando calçamos o All Star mais doloroso com coragem, que é quando o creme preferido volta a ter valor, que conseguimos ver a importância de UM amor. E só assim podemos admirtir que ele daria certo talvez, se estivéssemos sonhando.
Parabéns... o texto tá show.

Camilla Tebet disse...

Ps. adorei o novo look do blog.. tá ficando lindo e agora voltei a ler textos antigos. A evolução das suas letras é rápida e visível.
beijos pra vc querida.

Unknown disse...

Que texto mais liiiiindo! ;~~ adorei, adoreeeii

Camilla Tebet disse...

Sim Carol, também consigo pensar coisas que dissolvem o ódio. E o amor é a primeira coisa que me vem à cabeça. A segunda é a palavra escrita. O texto que vc comentou é mesmo triste e pesado, penso até ruim. Talvez nem devesse ter publicado. Mas acredito também na liberdade das palavras, acredito que quando acreditamos nelas e as deixamos toamrem seu prórpio caminho, o fim nem sempre é feliz, mas com certeza é libertador. Meio catarse sabe?
Bem, obrugado por me deixar saber que te inspiras no meu espaçinho . O sue me inspira também. Aliás, me traz saudade, como já te disse. MAs é meio por ai que funciona a vida de quem quer escrever não é? por inspiração.
Qto à BRU estou ai sempre, direto. Vou na segunda, mas é um bate volta só. Volto em breve para ficar mais. Meu e mail é ca13@uol.com.br. Manda o seu. Nos comunicamos e com certeza vamos tomar uam cerveja ou café, fumar um cigarro e falar .... hehehehehe.
Boa madrugada pra vc e NÂO páre.O ritmo aqui no seu blog tá crescente e é muito bom ver isso.
Beijos