terça-feira, 10 de junho de 2008

rotina

e, de uma hora pra outra, ela se viu sem chão. a sua música preferida perdeu o sentido e suas roupas não lhe cabiam mais. aquele rosto no espelho não era mais seu. a vista da janela era desconhecida. e nem mais o sol brilhava do mesmo jeito. tudo havia mudado e ela tinha permanecido; estática. seu amor não lhe pertencia. seu namorado agora era namorado de outra. e eles eram felizes. sua mãe tinha cabelos brancos e seus irmãos, filhos. seus amigos tinham outros amigos e até seu gato morava em outra casa. e ela continuava ali, no mesmo lugar. agora, ela já nem sabia mais que lugar era aquele. ou como poderia ter ficado tanto tempo parada. ela queria sair, mas seus pés estavam colados no chão. chão? que chão? hoje, ele não existia mais. e foi por isso, só por isso, que ela se sentiu estranha. não sentiu mais aquela força prendendo seus pés. e aquela acomodação fora perturbada pelo inusitado. ela não respondia mais a estímulos externos. era peça de um maquinário constante, contínuo. mas, quando algo interrompeu essa rotina, ela sentiu as dores do mundo. e sua bolha havia estourado. seus segredos guardados na mochila corriam perigo. ela sentia medo daquele mundo estranho lá fora. pôde então perceber que vida acontecera e ela não havia notado. quem eram aquelas pessoas? e que lugar é esse? sua cabeça estava confusa e ela só conseguia se sentir sozinha. aquele não era o seu lugar. aquela não era sua vida. nada daquilo era seu. mas, afinal, o que realmente lhe pertencia? será que o mundo correra demais ou ela que se perdera no tempo? ela não sabia. se sentia andando contra o relógio. enquanto o mundo corria com os ponteiros e enlouquecia com os minutos. tique-taque tique-taque tique-taque tique-taque era o ritmo da música que todos dançavam. menos ela. ela não.